Fazer Amor Como Uma Meditação
O tantra sempre foi incompreendido. Não pode ser compreendido por pessoas comuns; elas tendem a não o entender. É uma forma de prece, nada tem de ver com sexo.
Mesmo fazer amor nada tem a ver com sexo. Quando ele se
torna uma meditação, uma prece - somando a fusão e a reunião e a absorção de
energias em um espírito de prece -, não é apenas entretenimento ou brincadeira,
é devoção.
Essa é a técnica tântrica para considerar o ato de fazer
amor uma meditação. Enquanto estiver sendo acariciado, penetre na carícia como
se fosse uma vida duradoura.
Essa técnica se preocupa com o amor, porque o amor é a coisa
mais próxima em sua experiência durante a qual você fica relaxado. Se você não
consegue mudar o amor, é impossível que você relaxe. Se você consegue relaxar,
sua vida se torna uma vida amorosa.
Uma pessoa tensa não consegue amar. Por quê? Uma pessoa
tensa sempre vive tendo propósitos. Uma pessoa tensa pode ganhar dinheiro, mas
não consegue amar porque o amor é destituído de propósitos. O amor não e uma
commodity. Você não pode acumulá-lo; não pode obter saldo bancário com ele; não
pode reforçar seu ego graças a ele.
Realmente, o amor é o ato mais absurdo, sem significado para
além dele, sem propósito para além dele. Ele existe para si mesmo. não para
nenhuma outra finalidade.
Você ganha dinheiro para algo - é um meio. Você constrói uma
casa para alguém morar nela - é um meio. O amor não é um meio.
Por que você ama? Para que você ama? O amor é um fim em si.
É por esse motivo que uma mente que calcula e emprega a lógica, uma mente que
pensa em termos de propósito, não consegue amar.
E a mente que sempre pensa em termos de propósito ficará tensa,
porque o propósito só pode ser realizado no futuro, nunca no aqui e no agora.
Você está construindo uma casa - você não pode viver nela em caráter imediato,
não agora. Você ganha dinheiro - o saldo bancário será criado no futuro, não
agora. Os meios estão no presente e os fins ocorrerão no futuro.
O amor está sempre aqui; para ele não existe o futuro. É por
isso que o amor está tão próximo da meditação. É por isso que a morte também se
encontra tão próxima da meditação - porque a morte sempre ocorre no aqui e no
agora; ela não pode acontecer nunca no futuro. Você consegue morrer no futuro?
Você consegue morrer só no presente. Alguém alguma vez morreu no futuro? Como
você pode morrer no futuro? Ou como você pode morrer no passado? O passado se
foi, não existe mais, portanto você não pode morrer nele. A morte sempre ocorre
no presente.
Morte, amor, meditação - todos ocorrem no presente.
Portanto, se você tem receio da morte, não consegue meditar. Se você tem receio
da meditação, sua vida será inútil. Inútil não no sentido de algum propósito,
mas inútil no sentido de que você nunca será capaz de sentir alguma alegria
nela. Ela será fútil.
Pode parecer estranho vincular esses três conceitos: amor,
meditação e morte. Não é! São experiências similares. Então se você puder ter
um deles, poderá ter os outros dois.
Essa técnica se preocupa com o amor. Ela afirma:
"Enquanto estiver sendo acariciado, penetre na carícia como se fosse uma
vida duradoura". O que isso significa? Muitas coisas! Uma: enquanto você
está sendo amado o passado terminou e o futuro não existe. Você se move na
dimensão do presente. Você se move no agora.
Você já amou alguém? Se já amou, então sabe que a mente não
se encontra mais lá. É por isso que os assim denominados homens sábios dizem
que os amantes são cegos, perdem a mente, tornam-se enlouquecidos.
O que dizem está certo em essência. Os amantes são cegos
porque não possuem olhos para o futuro a fim de prever o que pretendem fazer.
Eles são cegos; não conseguem enxergar o passado. O que aconteceu aos amantes?
Eles simplesmente se movem no aqui e no agora sem ter nenhuma consideração a
respeito das consequências. É por isso que são chamados de cegos. Eles o são!
Para aqueles que fazem cálculos, eles são cegos - e para
aqueles que não fazem cálculos, são videntes. Aqueles que não são calculistas
encararão o amor como o ato real de ver, a visão real.
Portanto, o primeiro aspectos é que no momento do amor o
passado e o futuro deixam de existir. Por isso deve-se entender um ponto
delicado. Quando não há passado nem futuro, você pode considerar este momento
presente? O presente existe apenas entre os dois. Ele é relativo.
Se não existe o passado e o futuro, o que significa falar
sobre o presente? Ele não tem significado. É por isso que Shiva não usa a
palavra presente. Ele diz "vida eterna". Ele quer dizer eternidade...
você entra na eternidade.
Dividimos o tempo em três partes - passado. presente e
futuro. Essa divisão é falsa, totalmente falsa. O tempo realmente é passado e
futuro. O presente não é parte do tempo. O presente é parte da eternidade.
O que passou é o tempo; o que virá é o tempo. O que é o
presente não representa o tempo porque nunca passa - encontra-se sempre aqui. O
presente está sempre aqui. Encontra-se sempre aqui! Este presente é eterno.
Se você se mover do passado, nunca entrará no presente. Do
passado você sempre se moverá para o futuro; não haverá nenhum momento que seja
o presente. Do presente você nunca pode mover-se para o futuro. A partir do
presente você pode penetrar cada vez mais profundamente no mais presente e mais
no presente. Isto é vida eterna. Podemos dizer da seguinte maneira: do passado
para o futuro é o tempo. Tempo significa que você se desloca em um plano, em
uma linha reta. Pode-se denominá-la horizontal. No momento em que você estiver
no presente a dimensão se altera: você se move verticalmente - para cima ou
para baixo, em direção às alturas ou às profundezas. Porém, em seguida, você
nunca se desloca horizontalmente.
Buda e Shiva vivem na eternidade, não no tempo.
Perguntaram a Jesus: "O que acontecerá em seu Reino de
Deus?". O homem que lhe perguntou não estava indagando a respeito do
tempo. Estava perguntando a respeito do que aconteceria a seus desejos, a
respeito de como seriam satisfeitos.
Ele estava perguntando se haveria vida eterna ou se haveria
morte; se haveria infelicidade, se haveria pessoas inferiores e superiores. Ele
estava indagando a respeito de aspectos terrenos quando perguntou: "O que
acontecerá em seu Reino de Deus?".
E Jesus respondeu - a resposta foi idêntica à de um monge
zen: "O tempo deixará de existir". O homem que recebeu essa resposta
pode não ter compreendido o que significava "O tempo deixará de
existir". Jesus disse essa frase porque o tempo é horizontal e o Reino de
Deus é vertical..., ele é eterno. Ele está sempre aqui! Você precisa apenas se
afastar do tempo a fim de penetrá-lo.
Portanto, o amor é a primeira porta. Por ela você pode se
afastar do tempo. É por isso que todos desejam ser amados, todos querem amar. E
ninguém sabe por que se atribuiu tanto significado ao amor, por que há um
anseio tão profundo pelo amor.
E a não ser que você o conheça de modo certo, você não
consegue amar nem ser amado, porque o amor constitui um dos fenômenos mais
profundos neste planeta.
Continuamos a pensar que todos são capazes de amar, de modo
idêntico a ele ou a ela. Esse não é o caso - não é dessa maneira. É por isso
que você está frustrado. O amor constitui uma dimensão diferente e, se você
tentar amar alguém, com o passar do tempo fracassará em seu esforço.
Com o decorrer do tempo o amor não é possível. Olho à minha
frente e existe uma parede; movimento meus olhos e existe o céu. Quando você
olha o tempo, há sempre uma parede. Quando você olha para além do tempo, há o
céu aberto... infinito. O amor abre o infinito, a eternidade da existência.
Então realmente, se você já amou, o amor pode ser
transformado em uma técnica de meditação. Esta é a técnica: enquanto estiver
sendo amado, penetre no amor como unia vida eterna. Não seja um amante que
permanece distante e no exterior. Torne-se amoroso e entre na eternidade.
Quando você está amando alguém, você se encontra presente
como o amante? Se você estiver presente, então estará no ritmo e o amor é
falso. Se você ainda estiver presente e puder dizer "Eu estou", então
você pode estar fisicamente perto, mas espiritualmente estará muito distante.
Enquanto estiver apaixonado, você não pode existir - só
existe o amor e o ato de amar. Quando estiver acariciando seu amante ou ente
querido, transforme-se na carícia. Enquanto estiver beijando, não seja aquele
que beija ou é beijado - seja o beijo.
Esqueça completamente o ego, dissolva-o no ato. Mova-se para
o ato tão completamente a ponto de o ator deixar de existir. E se você não
consegue se mover para o amor, é difícil passar a comer ou a caminhar - muito
difícil, porque o amor é o modo mais fácil para dissolver o ego. É por isso que
os egoístas não conseguem amar. Eles podem falar a respeito dele, podem
celebrá-lo, podem escrever a respeito dele, mas não podem amar. O ego não
consegue amar!
Torne-se amoroso. Quando estiver abraçado, torne-se o
abraço, torne-se o beijo. Esqueça de si mesmo tão completamente para poder
dizer: "Não existo mais. Só o amor existe".
Então o coração não está batendo, mas o amor está pulsando.
Então o sangue não está circulando, o amor está circulando. E os olhos não
estão vendo, o amor está vendo. Então as mãos não estão se movendo para tocar,
o amor está se movendo para tocar.
Torne-se o amor e penetre na vida eterna. O amor muda
repentinamente nossa dimensão. Você é projetado do tempo e se defronta com a
eternidade.
Os amantes souberam algumas vezes o que os santos não
conheceram. E os amantes tocaram aquele centro que muitos iogues não
alcançaram. Mas esse será apenas um vislumbre a não ser que você transforme seu
amor em meditação. Tantra significa: a transformação do amor em meditação.
E agora você pode compreender por que o tantra fala tanto a
respeito de amor e sexo. Por quê? Porque o amor é a porta natural mais fácil da
qual você pode transcender este mundo, esta dimensão horizontal.
Observe as imagens existentes no Oriente de Shiva com sua
consorte Devi. Observe-os! Eles não aparentam ser duas pessoas - eles são uma.
A unicidade é tão profunda que até se transferiu para os símbolos. Todos vimos
o Shivalinga. É um símbolo fálico - o órgão sexual de Shiva - mas não está sozinho,
encontra-se na vagina de Devi.
Os hindus da Antiguidade eram muito ousados. Então quando
você vê um Shivalinga nunca se lembra de que é um símbolo fálico. Esquecemos:
tentamos esquecê-lo completamente.
Carl Jung recorda-se em sua autobiografia, em suas memórias,
de um acontecimento muito bonito e engraçado. Ele viajou para a Índia e foi ver
Konark e no templo de Konark há um grande número de Shivalingas, muitos
símbolos fálicos.
A pessoa letrada que o ciceroneava lhe explicou tudo exceto
os Shivalingas. E eram tantos que se tornava difícil não os ver. Jung estava
bem consciente da situação, mas apenas para provocar a pessoa letrada ele
continuava perguntando: "Mas o que são estes?". Então essa pessoa no
final disse no ouvido de Jung: "Não me pergunte aqui, eu lhe direi
posteriormente. Este é um assunto particular".
Jung deve ter rido internamente - esses são os hindus de
hoje. Então, no lado de fora do templo, a pessoa letrada aproximou-se e disse:
"Não era conveniente o senhor perguntar-me na frente das demais pessoas.
Agora lhe direi. É um segredo". E então ele disse novamente no ouvido de
Jung: "Eles são nossas partes íntimas".
Quando Jung voltou à Europa conheceu um grande erudito - um
erudito conhecedor do pensamento, da mitologia e da filosofia orientais,
Heinrich Zimmer. Ele lhe contou essa situação hilariante. Zimmer foi uma das
mentes mais privilegiadas que já tentaram penetrar o pensamento hindu e era um
admirador da Índia e de seu modo de pensar - da abordagem oriental, desprovida
de lógica e mística em relação à vida.
Quando ouviu o relato de Jung, ele riu e disse: "Isso
muda as coisas. Sempre ouvi falar de grandes hindus - Buda, Krishna, Mahavir. O
que você conta diz algo não a respeito dos grandes hindus, mas sobre os
hindus".
O amor é um grande portão. E para o tantra, o sexo não é
algo a ser condenado. Para o tantra, o sexo é a semente e o amor, seu
florescimento e, se você condenar a semente. estará condenando a flor. Sexo
pode tornar-se amor. Se nunca se tornar amor então estará inválido. Condene o
fato de ele estar inválido, não o sexo. O amor precisa florescer, o sexo
precisa transformar-se em amor. Se ele não se tornar amor, é culpa nossa.
O sexo não deve permanecer como sexo - esse é o ensinamento
tântrico. Precisa ser transformado em amor. E o amor também não pode permanecer
como amor. Precisa ser transformado em luz, em experiência meditativa.
Como transformar o amor? Seja o ato e esqueça o ator.
Enquanto ama, seja o amor - simplesmente o amor. Então ele não é seu amor ou
meu amor ou o de alguém - ele é simplesmente amor.
Quando você não estiver presente, quando estiver nas mãos da
última fonte, ou da atual, quando estiver apaixonado, não será você que estará
apaixonado. Quando o amor o tiver tragado, você terá desaparecido: simplesmente
se tornará uma energia que flui.
D. H. Lawewnce, uma das mentes mais criativas de seu tempo,
era um adepto do tantra, com ou sem conhecimento de causa. Ele foi totalmente
condenado no Ocidente e seus livros foram proibidos. Sofreu muitos processos
porque afirmava: "A energia do sexo é a única energia, e se você a condena
e a suprime está contra o universo. Então você nunca será capaz de conhecer o
florescimento mais elevado dessa energia. E quando é suprimida torna-se feia -
este é o círculo vicioso".
Sacerdotes, moralistas e as assim denominadas pessoas
religiosas continuam condenando o sexo. Elas afirmam que se trata de algo feio.
E quando você o suprime, então ele realmente se torna feio. Então eles dizem:
'Veja! O que dissemos é verdade. Você o provou".
Porém não é o sexo que é feio, são esses sacerdotes que o
tornaram feio. Após o tornarem feio, foram considerados certos. E quando são
considerados certos, você prossegue tornando-o cada vez mais feio.
Sexo é energia inocente - vida fluindo em você, a existência
da vida em você. Não o torne um inválido! Permita-lhe chegar às alturas, isto
é, sexo precisa se tornar amor.
Qual é a diferença? Quando sua mente é sexual, você está se
aproveitando do outro; o outro é apenas um instrumento para ser usado e descartado.
Quando o sexo se torna amor o outro não é um instrumento, o outro não existe
para ser usado; o outro não é realmente o outro.
Quando você ama, o amor não é autocentrado. O outro,
preferentemente, torna-se significativo e único. Não se trata de você o estar
usando - não! Pelo contrário, vocês dois se concentram juntos em uma
experiência profunda.
Vocês são parceiros em uma experiência profunda, não o
aproveitador e a pessoa usada. Vocês estão se ajudando mutuamente para entrar
em um mundo diferente de amor. O amor está entrando junto em um mundo
diferente.
Se essa passagem não for momentânea e se tornar meditativa, isto é, se você conseguir esquecer completamente a si mesmo, o que significa amante e ente querido desaparecerem, e se houver somente amor fluindo, então, diz o tantra, a vida eterna lhe pertencerá.
Cleuzi da Silva é mentoring e Acompanha Almas no processo de autodescoberta; é Especialista em Desenvolvimento Transpessoal, Acompanhante de Almas, Orientadora Transcendental, Terapeuta Transpessoal e de Pranic Healing, Instrutora de Meditação Mindfulness e Facilitadora da Meditação nos Corações Gêmeos. Cleuzi partilham as suas dádivas com a humanidade através deste Blogue e do canal do youtube.